Rumo ao PNEC 2030: Como a ATE está a redesenhar o futuro energético Nacional
A Aliança para a Transição Energética (ATE) é um consórcio nacional que reúne empresas, universidades e centros de investigação com um objetivo comum: Acelerar a transição energética em Portugal.
Nesta entrevista, Rui Lameiras, Coordenador da Agenda ATE, apresenta os principais eixos de atuação da ATE, os desafios enfrentados e o papel da Associação ATE na promoção de uma energia mais limpa, justa e colaborativa.

- É possível detalhar alguns dos projetos considerados prioritários nos quais estão envolvidos e de que forma os mesmos contribuem para alcançar os objetivos do PNEC 2030?
- Aumento da incorporação de renováveis no consumo de energia: Neste domínio, a ATE tem projetos que vão desde soluções para design, simulação, monitorização e operação de sistemas fotovoltaicos flutuantes, com um sistema piloto a ser implementado na Barragem de Monte Novo; a processos de fabricação e armazenamento para plataformas offshore inteligentes, um projeto coordenado pela ETERMAR e que afirmará Portugal como um player da Economia Azul. A ATE tem também projetos inovadores no domínio do AgriPV, com um demonstrador a ser desenvolvido pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo, e um leque variado de soluções digitais e modelos de negócio inovadores para comunidades de energia renovável a serem testados em ambiente residencial (Caxias Living Lab), em centros comerciais, em clusters multissectoriais de serviços e instalações industriais e também em centros históricos. Estas soluções permitirão expandir a aplicabilidade destes serviços e configurações a nível nacional.
- Redução das emissões de GEE: A ATE inclui ainda um conjunto alargado de projetos que projetos de investigação e inovação produtiva focados no desenvolvimento do conhecimento e experimentação com vista à descarbonização de processos e da economia. Incluem-se neste lote projetos como a Bateria de Carnot, um projeto que explora o armazenamento elétrico recorrendo a fontes térmicas; a produção de hidrogénio através de processos químicos avançados, como o processo de Westinghouse; o desenvolvimento de ferramentas de planeamento, otimização e apoio à decisão para apoiar instalações industriais a adaptar processos para permitir a mistura hidrogénio/gás natural, apoiando a disseminação do hidrogénio verde a nível industrial, assim como o desenvolvimento de hubs de produção e utilização de hidrogénio verde multi-offtaker.
- Redução do consumo energético/Aumento da eficiência energética: Os projetos ATE nesta área podem ser agrupados em três áreas principais: edifícios inteligentes e sustentáveis, gestão e monitorização de recursos, e digitalização e otimização de sistemas energéticos. Na área dos edifícios, incluem-se soluções para casas e edifícios conectados, com o desenvolvimento de ferramentas que promovem a automação e o uso eficiente de recursos, assim como a otimização de geração e consumo, com integração de mobilidade elétrica e armazenamento. No campo da gestão de recursos, salientam-se os projetos ATE que focam no desenvolvimento de soluções digitais para gestão de equipas e ativos, bem como tecnologias de sensores óticos para monitorização de gás e drones para inspeção remota de pipelines e deteção de fugas, melhorando a segurança e a eficiência. Ainda neste campo, destaca-se o projeto BrightPost que oferece uma solução inteligente e diferenciada para a iluminação pública das cidades. Por fim, na área da digitalização e otimização de sistemas energéticos, a ATE oferece projetos que focam na circularidade das cadeias de valor do setor energético, na gestão e otimização de consumos energéticos a nível municipal, com elevado valor para as cidades nacionais, e plataformas digitais baseadas em ferramentas de IA focadas no setor energético com vista à maximização da eficiência e resiliência das infraestruturas energéticas dos atores do setor.
- Aumento da resiliência das infraestruturas energéticas: Também neste tópico, os projetos da ATE desempenham um papel crucial através da implementação de soluções inovadoras que asseguram uma rede mais segura, eficiente e adaptável. Neste âmbito, destacam-se projetos que envolvem:
- A nova geração de tecnologias para proteção, automação e controlo das redes de energia, permitindo a monitorização e resposta rápidas a falhas, aumentando a estabilidade do sistema;
- A exploração de soluções de flexibilidade e de gestão de continuidade nas redes de baixa tensão, garantindo o fornecimento ininterrupto de energia, mesmo em cenários de elevada procura ou falhas imprevistas;
- O desenvolvimento de celas e blocos de rede de média tensão, sem SF6, que contribuem para um sistema elétrico mais sustentável;
- O desenvolvimento de transformadores inovadores de grande potência e alta tensão, otimizados para a produção de energia renovável, que fortalecem a capacidade da rede em lidar com fontes de energia limpa, tornando-a mais robusta e preparada para os desafios do futuro.
- Aumento da capacitação, colaboração e geração de valor acrescentado: A ATE contribui também ativamente para este objetivo, seja através de um work package exclusivamente dedicado ao upskill e reskill de ativos, seja através da criação de uma rede colaborativa de laboratórios para a transição energética que visa fortalecer a relação entre entidades empresariais e academia e apoiar a validação e certificação de soluções e componentes com vista à sua mais rápida colocação no mercado.
- A ATE tem defendido a importância de uma transição energética justa e inclusiva, com particular enfoque nas regiões do interior de Portugal. Que dificuldades tem encontrado na implementação de políticas e soluções energéticas nestas zonas, e como tem contornado essas barreiras?
- A mobilidade elétrica está entre as bandeiras da ATE, em linha com os seus compromissos de redução das emissões de CO2. Que iniciativas concretas têm tomado para promover a eletrificação dos transportes em Portugal e como vêm o papel das infraestruturas de carregamento e das políticas públicas neste domínio?
Ainda neste campo, destaca-se também o projeto Gridhryve, um projeto da PRF, que embora não assente numa lógica de eletrificação, pode ter um papel muito significativo para a descarbonização da mobilidade, quando os veículos movidos a hidrogénio tenham uma presença mais relevante no mercado. O Gridhryve consiste numa estação portátil de reabastecimento de hidrogénio concebida para a indústria do desporto automóvel e que tem sido testada em condições desafiantes como é o caso do Rally Dakar.
Também neste âmbito da mobilidade, salientam-se os projetos da ATE na área da descarbonização marítima, com um projeto ambicioso de shorepower a ser desenvolvido no Porto de Aveiro, integrando o seu plano de descarbonização, assim como o desenvolvimento de uma plataforma de gestão multimodal, com pilotos demonstradores a decorrer nas áreas metropolitanas de Porto e Lisboa, e que visa melhorar a experiência dos utilizadores de transportes públicos.
A nível de políticas públicas e focando na eletrificação da mobilidade, a necessidade de expandir e reforçar as infraestruturas de carregamento assim como a escassez de incentivos fiscais e de subsidiação à aquisição de veículos elétricos são ainda desafios a transpor. Contudo, a ATE pretende apoiar na mitigação de alguns destes desafios através do fomento à eletrificação de frotas corporativas e ao reforço das alternativas de carregamento.
A Associação ATE (AATE) posicionou-se como um elo de ligação entre o setor privado, o setor público e a sociedade civil. Como têm colaborado com empresas de diferentes setores para implementar soluções energéticas sustentáveis, e como pode a parceria com a ENERH20 reforçar ainda mais estas parcerias e promover novos modelos de negócio?
- maximizar o valor gerado por meio da cocriação e colaboração entre associados;
- promover a competitividade internacional e aumentar o volume de negócios em mercados externos;
- facilitar acesso a apoios para inovação, promoção internacional e desenvolvimento tecnológico;
- contribuir para estudos e influenciar políticas no setor energético.
- A ATE tem um foco particular na formação e capacitação em torno da transição energética, com programas destinados a vários grupos etários e setores profissionais. Podem falar-nos sobre as iniciativas de formação que estão a desenvolver, especialmente as que visam preparar a força de trabalho para os desafios da transição energética nas próximas décadas?
- Dado o trabalho de referência que a AATE tem feito em prol da transição energética em Portugal, como encaram o papel da associação no futuro da energia sustentável a nível global? Que mensagem gostariam de transmitir acerca do papel da colaboração internacional e da inovação tecnológica na garantia de um futuro mais verde e resiliente para as gerações futuras?