3rd ENERGY AND WATER INNOVATION & TECHNOLOGY TRADE SHOW

24 → 25 SETEMBRO 2025 . EXPONOR PAVILHÃO 2. FEIRA INTERNACIONAL DO PORTO

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Rumo ao PNEC 2030: Como a ATE está a redesenhar o futuro energético Nacional

A Aliança para a Transição Energética (ATE) é um consórcio nacional que reúne empresas, universidades e centros de investigação com um objetivo comum: Acelerar a transição energética em Portugal.

Nesta entrevista, Rui Lameiras, Coordenador da Agenda ATE, apresenta os principais eixos de atuação da ATE, os desafios enfrentados e o papel da Associação ATE na promoção de uma energia mais limpa, justa e colaborativa.

  1.  É possível detalhar alguns dos projetos considerados prioritários nos quais estão envolvidos e de que forma os mesmos contribuem para alcançar os objetivos do PNEC 2030?
A ATE tem um leque muito diversificado de projetos que contribuem ativamente e transversalmente para os objetivos do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030). Explicamos abaixo a transversalidade desta Agenda:

  • Aumento da incorporação de renováveis no consumo de energia: Neste domínio, a ATE tem projetos que vão desde soluções para design, simulação, monitorização e operação de sistemas fotovoltaicos flutuantes, com um sistema piloto a ser implementado na Barragem de Monte Novo; a processos de fabricação e armazenamento para plataformas offshore inteligentes, um projeto coordenado pela ETERMAR e que afirmará Portugal como um player da Economia Azul. A ATE tem também projetos inovadores no domínio do AgriPV, com um demonstrador a ser desenvolvido pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo, e um leque variado de soluções digitais e modelos de negócio inovadores para comunidades de energia renovável a serem testados em ambiente residencial (Caxias Living Lab), em centros comerciais, em clusters multissectoriais de serviços e instalações industriais e também em centros históricos. Estas soluções permitirão expandir a aplicabilidade destes serviços e configurações a nível nacional. 
  • Redução das emissões de GEE: A ATE inclui ainda um conjunto alargado de projetos que projetos de investigação e inovação produtiva focados no desenvolvimento do conhecimento e experimentação com vista à descarbonização de processos e da economia. Incluem-se neste lote projetos como a Bateria de Carnot, um projeto que explora o armazenamento elétrico recorrendo a fontes térmicas; a produção de hidrogénio através de processos químicos avançados, como o processo de Westinghouse;  o desenvolvimento de ferramentas de planeamento, otimização e apoio à decisão para apoiar instalações industriais a adaptar processos para permitir a mistura hidrogénio/gás natural, apoiando a disseminação do hidrogénio verde a nível industrial, assim como o desenvolvimento de hubs de produção e utilização de hidrogénio verde multi-offtaker.
  • Redução do consumo energético/Aumento da eficiência energética: Os projetos ATE nesta área podem ser agrupados em três áreas principais: edifícios inteligentes e sustentáveis, gestão e monitorização de recursos, e digitalização e otimização de sistemas energéticos. Na área dos edifícios, incluem-se soluções para casas e edifícios conectados, com o desenvolvimento de ferramentas que promovem a automação e o uso eficiente de recursos, assim como a otimização de geração e consumo, com integração de mobilidade elétrica e armazenamento. No campo da gestão de recursos, salientam-se os projetos ATE que focam no desenvolvimento de soluções digitais para gestão de equipas e ativos, bem como tecnologias de sensores óticos para monitorização de gás e drones para inspeção remota de pipelines e deteção de fugas, melhorando a segurança e a eficiência. Ainda neste campo, destaca-se o projeto BrightPost que oferece uma solução inteligente e diferenciada para a iluminação pública das cidades. Por fim, na área da digitalização e otimização de sistemas energéticos, a ATE oferece projetos que focam na circularidade das cadeias de valor do setor energético, na gestão e otimização de consumos energéticos a nível municipal, com elevado valor para as cidades nacionais, e plataformas digitais baseadas em ferramentas de IA focadas no setor energético com vista à maximização da eficiência e resiliência das infraestruturas energéticas dos atores do setor.
  • Aumento da resiliência das infraestruturas energéticas: Também neste tópico, os projetos da ATE desempenham um papel crucial através da implementação de soluções inovadoras que asseguram uma rede mais segura, eficiente e adaptável. Neste âmbito, destacam-se projetos que envolvem:
  • A nova geração de tecnologias para proteção, automação e controlo das redes de energia, permitindo a monitorização e resposta rápidas a falhas, aumentando a estabilidade do sistema;
  • A exploração de soluções de flexibilidade e de gestão de continuidade nas redes de baixa tensão, garantindo o fornecimento ininterrupto de energia, mesmo em cenários de elevada procura ou falhas imprevistas;
  • O desenvolvimento de celas e blocos de rede de média tensão, sem SF6, que contribuem para um sistema elétrico mais sustentável;
  • O desenvolvimento de transformadores inovadores de grande potência e alta tensão, otimizados para a produção de energia renovável, que fortalecem a capacidade da rede em lidar com fontes de energia limpa, tornando-a mais robusta e preparada para os desafios do futuro. 
  • Aumento da capacitação, colaboração e geração de valor acrescentado: A ATE contribui também ativamente para este objetivo, seja através de um work package exclusivamente dedicado ao upskill e reskill de ativos, seja através da criação de uma rede colaborativa de laboratórios para a transição energética que visa fortalecer a relação entre entidades empresariais e academia e apoiar a validação e certificação de soluções e componentes com vista à sua mais rápida colocação no mercado. 
De salientar que a ATE tem também um conjunto alargado de projetos no âmbito da descarbonização da mobilidade que são detalhados mais à frente nesta entrevista.
  1.  A ATE tem defendido a importância de uma transição energética justa e inclusiva, com particular enfoque nas regiões do interior de Portugal. Que dificuldades tem encontrado na implementação de políticas e soluções energéticas nestas zonas, e como tem contornado essas barreiras?
O consórcio da Agenda ATE cobre efetivamente uma parte muito significativa do território nacional, com entidades localizadas um pouco por todo o país. Adicionalmente, há a referir a heterogeneidade de entidades que integram o consórcio onde se incluem entidades empresariais de grandes dimensões e grandes universidades e centros de investigação, mas também pequenas e médias empresas, com diferentes níveis de maturidade e dimensão. A localização, mas também a dimensão e experiência das entidades em participar neste tipo de projeto colaborativo levanta desafios que se refletem na execução dos projetos. Entre os desafios destaca-se a dificuldade mais acentuada de contratação de técnicos qualificados para os projetos da ATE pelas entidades localizadas nas regiões mais interiores, o que se deve por um lado à escassez de profissionais especializados e por outro lado, à dificuldade em atrair talento para essas regiões. A solução tem passado pela subcontratação de alguns serviços.  A nível operacional e de gestão, o apoio da Associação ATE também tem servido para colmatar algumas dificuldades sentidas por entidades menos experientes nestes programas e também para aumentar o contacto e o espírito colaborativo entre entidades, o que num consórcio com esta dimensão também é um desafio.
  1. A mobilidade elétrica está entre as bandeiras da ATE, em linha com os seus compromissos de redução das emissões de CO2. Que iniciativas concretas têm tomado para promover a eletrificação dos transportes em Portugal e como vêm o papel das infraestruturas de carregamento e das políticas públicas neste domínio?
A descarbonização da mobilidade, não apenas através da sua eletrificação, mas apostando em soluções diferenciadoras, é um dos eixos estruturantes da ATE. A este nível, a ATE tem projetos que vão desde a mobilidade elétrica, com o desenvolvimento de uma nova geração de soluções de carga de veículos elétricos que permitirá ao Grupo EFACEC posicionar-se estrategicamente nesta área, a soluções de mobilidade corporativa integradas com sistemas de carregamento elétrico que serão estruturadas ‘as a service’ e exploradas pela Mota-Engil Renewing. Neste domínio, salienta-se ainda o desenvolvimento de novos veículos elétricos como o Toyota Land Cruiser série 70 elétrico, um novo produto do Grupo Toyota inovador pelas características e mercado a que se destina. 

Ainda neste campo, destaca-se também o projeto Gridhryve, um projeto da PRF, que embora não assente numa lógica de eletrificação, pode ter um papel muito significativo para a descarbonização da mobilidade, quando os veículos movidos a hidrogénio tenham uma presença mais relevante no mercado. O Gridhryve consiste numa estação portátil de reabastecimento de hidrogénio concebida para a indústria do desporto automóvel e que tem sido testada em condições desafiantes como é o caso do Rally Dakar.

Também neste âmbito da mobilidade, salientam-se os projetos da ATE na área da descarbonização marítima, com um projeto ambicioso de shorepower a ser desenvolvido no Porto de Aveiro, integrando o seu plano de descarbonização, assim como o desenvolvimento de uma plataforma de gestão multimodal, com pilotos demonstradores a decorrer nas áreas metropolitanas de Porto e Lisboa, e que visa melhorar a experiência dos utilizadores de transportes públicos.

A nível de políticas públicas e focando na eletrificação da mobilidade, a necessidade de expandir e reforçar as infraestruturas de carregamento assim como a escassez de incentivos fiscais e de subsidiação à aquisição de veículos elétricos são ainda desafios a transpor. Contudo, a ATE pretende apoiar na mitigação de alguns destes desafios através do fomento à eletrificação de frotas corporativas e ao reforço das alternativas de carregamento.
  1. A Associação ATE (AATE) posicionou-se como um elo de ligação entre o setor privado, o setor público e a sociedade civil. Como têm colaborado com empresas de diferentes setores para implementar soluções energéticas sustentáveis, e como pode a parceria com a ENERH20 reforçar ainda mais estas parcerias e promover novos modelos de negócio?

A Associação ATE tem desempenhado um papel fundamental na promoção da colaboração e articulação entre os membros do consórcio da Agenda ATE, atuando como um facilitador na gestão e coordenação das atividades, apoiando o papel da EFACEC, enquanto coordenador da Agenda. Através deste seu papel na Agenda, a AATE tem conseguido manter uma comunicação fluida e ágil entre os parceiros, o que tem contribuído para a evolução positiva da execução física e financeira dos projetos.  Além disso, enquanto responsável pela comunicação transversal da ATE, a Associação tem promovido a ponte com a sociedade civil através de ações de comunicação e da disseminação dos resultados, destacando o valor das soluções inovadoras que estão a ser desenvolvidas.  Após a ATE, a Associação ambiciona evoluir para um Cluster de Energia, tirando partido das suas valências e aumentando o seu domínio de atuação para:
  • maximizar o valor gerado por meio da cocriação e colaboração entre associados;
  • promover a competitividade internacional e aumentar o volume de negócios em mercados externos;
  • facilitar acesso a apoios para inovação, promoção internacional e desenvolvimento tecnológico;
  • contribuir para estudos e influenciar políticas no setor energético.
A parceria com a ENERH20 tem o potencial de reforçar o papel da AATE, ampliando a visibilidade do trabalho realizado, expondo soluções e entidades, e promovendo novas parcerias e colaborações para a partilha de conhecimento e inovação, contribuindo assim para o fortalecimento das cadeias de valor do setor energético. Além disso, pode ser uma forma de atrair novos Associados, reforçando o posicionamento da AATE.
  1.  A ATE tem um foco particular na formação e capacitação em torno da transição energética, com programas destinados a vários grupos etários e setores profissionais. Podem falar-nos sobre as iniciativas de formação que estão a desenvolver, especialmente as que visam preparar a força de trabalho para os desafios da transição energética nas próximas décadas?
Desde a fase de candidatura e montagem do consórcio da Agenda ATE, as necessidades de formação e capacitação de ativos para a transição energética e digital foram desde logo identificadas o que motivou a criação de um Work Package dedicado.  É reconhecida a escassez de talento que o setor atravessa, com especial enfoque nos setores dependentes de soluções tecnologicamente especializadas. Neste sentido, e tal como o trabalho que está a ser dinamizado no âmbito da Agenda ATE, a AATE acredita que é necessário continuar a fomentar ecossistemas academia-indústria para disseminação e troca de conhecimento, nomeadamente para capacitar os colaboradores existentes em áreas emergentes para o sector energético e criar competências multidisciplinares nas empresas, criando também competências nestes domínios para recursos em risco de desemprego ou em desemprego efetivo. Assim, esta é uma das atividades que a Associação quer continuar a dinamizar no seio dos seus Associados e tirando partido também da proximidade com outros clusters.
  1. Dado o trabalho de referência que a AATE tem feito em prol da transição energética em Portugal, como encaram o papel da associação no futuro da energia sustentável a nível global? Que mensagem gostariam de transmitir acerca do papel da colaboração internacional e da inovação tecnológica na garantia de um futuro mais verde e resiliente para as gerações futuras?
No futuro pós-Agenda, a Associação ATE pretende posicionar-se num papel de facilitador e matchmaker, percebendo as oportunidades do setor e as ambições e necessidades dos seus Associados. Assim, e tendo como objetivo o aumento da competitividade do setor no cenário nacional e internacional, a AATE vai reunir esforços para procurar garantir a presença dos seus Associados em consórcios internacionais, permitindo-lhes ganhar escala e aceder a novos mercados. Este processo será essencial para posicionar as entidades AATE como relevante no contexto global. Simultaneamente, a AATE também procurará fortalecer parcerias com outros clusters, estimulando a colaboração intersetorial para reforçar a inovação e a competitividade, criando um ecossistema mais robusto e preparado para os desafios do futuro energético e digital.