ADENE: “É necessário continuar a trabalhar para se chegar a cada vez mais empresas com cada vez melhores projetos”
Patrícia Corigo, Coordenadora na Direção Sustentabilidade e Mobilidade da ADENE - Agência para a Energia
Para Patrícia Corigo, Coordenadora na Direção Sustentabilidade e Mobilidade da ADENE – Agência para a Energia, apesar dos “apoios públicos significativos” para o financiamento da transição energética, existem ainda “muitas PME que não conseguiram ainda investir numa maior eficiência e circularidade dos seus processos”. Isto porque a “complexidade dos avisos e a carga administrativa associada – também motivada pela exigência dos sistemas de controlo de riscos de fraude – são barreiras importantes”.
A responsável da ADENE é uma das intervenientes da mesa-redonda que, no dia 25, a partir das 10h30, na Sala Solarshop do ENERH2O, incidirá sobre as modalidades de financiamento para a transição energética das PME. A nossa newsletter entreabre agora algumas das mensagens que trará a debate.
PATRÍCIA CORIGO – As PME têm tido à disposição, e continuarão a ter, pelo menos até 2030, apoios públicos significativos para o financiamento da transição energética, com destaque para os investimentos do PRR, no âmbito da descarbonização da indústria, da renovação energética de edifícios de
serviços (num montante global superior a 800 M€), e, também, para os avisos do PT2030, para apoio a empresas no âmbito da descarbonização e da economia circular (num montante global da ordem de 600 M€), entre outros.
No entanto, apesar dos apoios, existem muitas PME que não conseguiram ainda investir numa maior eficiência e circularidade dos seus processos. A complexidade dos avisos e a carga administrativa associada – também motivada pela exigência dos sistemas de controlo de riscos de fraude – são barreiras importantes. Para potenciar a adesão das PME, é importante que todos os envolvidos no desenho dos programas de financiamento continuem a trabalhar no sentido da simplificação dos processos de candidatura e na adoção de mecanismos práticos de verificação da qualidade dos projetos. Um outro aspeto crítico é o das competências verdes. Para uma transição justa, importa capacitar as PME dotando-as do conhecimento que lhes permita decisões mais conscientes e informadas. É igualmente crucial esta aposta nas competências verdes para reforçar o quadro de profissionais envolvido, quer no desenho dos projetos quer na avaliação de candidaturas. A aposta na formação de profissionais nos domínios da transição energética e da circularidade é fundamental.
ENERH2O – As empresas, de uma forma geral, têm sabido aproveitar as medidas e os programas de apoio existentes?
PC – A adesão ao financiamento por parte das empresas tem sido grande. Por exemplo, no âmbito da linha de apoio à descarbonização da indústria do PRR, os 815 M€ de montante de investimento aprovado (parte do qual em overbooking) revela uma forte adesão por parte das empresas. Existirão muitos exemplos de bons projetos. No entanto, sabemos que, por vezes, a exigência dos prazos e alguma falta de recursos e conhecimento técnico conduz a soluções menos ajustadas às necessidades específicas das empresas. É fundamental promover a eficiência dos processos produtivos, por exemplo, através da eletrificação e da utilização de matérias-primas secundárias, valorizando subprodutos e resíduos. Importa apostar na capacitação das empresas, em especial das PME, dotando-as das ferramentas que as ajudem a desenvolver os planos de ação mais adequados às suas necessidades. Suportando-se na experiência de largos anos de gestão do Sistema de Certificação Energética e o Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (este dirigido a grandes consumidores de energia), a ADENE – Agência para a Energia, tem vindo a trabalhar ativamente com as empresas, a academia e o sistema científico e tecnológico no desenvolvimento dessas ferramentas.
Destaco, neste contexto, os referenciais de classificação do desempenho hídrico AQUA+, disponível para hotéis e escritórios, da sustentabilidade de frotas
MOVE+ e de circularidade eCIRCULAR, este último aplicável a qualquer instalação.
Todas estas ferramentas não só medem, de forma simples e ágil, o desempenho dos edifícios, frotas e instalações, como estabelecem um roteiro de medidas para a melhoria desse desempenho. São, pois, ferramentas úteis para o apoio às empresas, em particular PME, no desenho de bons projetos com metas de desempenho bem definidas.
ENERH2O – Em traços gerais, qual a mensagem primordial que trará para a conferência da ENEH2O em que participará?
PC – Em resumo, levarei uma mensagem muito positiva sobre o caminho que tem vindo a ser percorrido pelas empresas no sentido da descarbonização e da circularidade, em resposta ao desafio climático. Contudo, importará reconhecer que é necessário continuar a trabalhar para se chegar a cada vez mais empresas com cada vez melhores projetos. E para potenciar esse objetivo não basta disponibilidade de financiamento. É necessário dotar as empresas de ferramentas práticas que as ajudem na avaliação do desempenho e no desenho de planos eficazes. É igualmente fundamental capacitar as empresas na área da energia, da eficiência hídrica e da circularidade. É precisamente nestes “ingredientes”, que têm de acompanhar os fundos disponíveis, que a ADENE, através da sua oferta formativa e das ferramentas técnicas que coloca à disposição das empresas, se tem concentrado, procurando dar um contributo efetivo na facilitação deste caminho para a neutralidade climática.